palácio de Santos
- Ana Calheiros
- 3 de mar. de 2021
- 4 min de leitura
Atualizado: 19 de jun. de 2024


Esta imagem é um corte da capa do livro editado em 2012 pela Embaixada de França sobre o Palácio de Santos que é sede da Embaixada desde 1948.
A edição deste livro, o cuidado na apresentação que é feita ao Palácio no site da Embaixada e as recentes obras de restauro do edifício e do seu interior, testemunham o apreço que é dado por esta embaixada ao património arquitetónico de que são seus proprietários, bem como à historia do local que também faz parte da nossa história.

O Paço de Santos
Em 1497, D. Manuel I enquanto o Palácio da Ribeira estava em construção, transforma este palácio em sua residência tendo sido responsável pelas obras de adaptação o Arquitecto João de Castilho, um dos grandes arquitectos do estilo "manuelino" e que tem associado ao seu nome a participação na construção do Palácio da Ribeira (desaparecido) e de mais cinco monumentos históricos classificados pela UNESCO como Património Mundial como: o Mosteiro dos Jerónimos, o Convento de Cristo de Tomar, a fortaleza de Mazagão, o Mosteiro de Alcobaça e o Mosteiro da Batalhe. Nestes dois últimos a sua participação está associada a intervenções e melhoramentos realizados.
Mesmo depois da conclusão das obras do Palácio da Ribeira, este continua a ser uma residência de laser durante o seu reinado e nos reinados de D. João III e de D. Sebastião.
Neste Palácio Real de Santos foi celebrado o casamento de D. Manuel com a filha dos Reis Católicos de Espanha, D. Isabel de Aragão, sua primeira mulher.
Outras histórias ligam este Palácio à família Real enquanto fizeram dele sua residência.
D. João III, ao contrário do pai, não gostava particularmente de residir neste palácio e, em 1514, ainda como príncipe herdeiro, terá quase morrido ao cair de uma das varandas.
D. Catarina, viúva de D. João III, terá incutido no seu neto D. Sebastião a sua especial predilecção por esta residência e, conta-se que terá sido na mesa de mármore que se encontra no actual jardim que D. Sebastião terá tomado a última refeição antes de partir para Marrocos. No dia anterior terá assistido missa na Igreja de Santos-o-Velho.
As Comadreiras de Santiago
Os areais de Santos são assim denominados pelo facto de ter existido nesse lugar um templo visigodo em honra dos três irmãos Máxima, Júlia e Veríssimo, santos mártires durante o reinado de Diocleciano.
D. Afonso Henriques mandou erigir sobre as ruínas do templo, arrasado durante a dominação muçulmana, uma igreja e, em seu redor foram erguidas várias casas pertença dos frades guerreiros da Ordem de Santiago e Espada.
Rapidamente, em virtude da característica guerreira dos frades desta congregação, essas casas passaram a ser habitadas apenas por mulheres; as esposas, as viúvas, as mães, as filhas, as irmãs solteiras dos que combatiam, surgindo assim o Convento de Santos ou das Comadreiras de Santiago.
D. João II, reinstala o Convento em Santos-o-Novo, ficando este convento desabitado e, posteriormente é alugado a Fernão Lourenço, feitor da Casa da Mina, rico banqueiro e armador que transforma o espaço num Solar digno da sua condição. O solar teria um ancoradouro de que restam vestígios no átrio da actual igreja.
É este solar no promontório de Santos, com ancoradouro privado que D. Manuel I negoceia com Fernão Lourenço o aluguer e, ao fazê-lo, promove o desenvolvimento do Bairro da Mouraria e o aparecimento de várias casas nobres na zona.
Palácio dos Marqueses de Abrantes
Após a fatídica campanha em Ceuta que levou à perda da Independência e dizimou a maior parte das famílias nobres o palácio fica por várias décadas desocupado acabando por ser adquirido, em 1629, pela família Lancastre que, durante o reinado de D. João III já o tinha ocupado (Luís de Lancastre, filho de Jorge Lancastre, filho ilegítimo de D. João II e primo de D. Manuel I).
José Luis Lancaster (neto de Luis Lancaster) era um grande apreciador de arte, gosto que transmitiu às gerações que se seguiram (segunda metade do século XVII e a primeira metade do século XVIII) e, é desta época a actual aparência do palácio que foi aumentado e reconstruído pelo Arquitecto João Antunes.
São dessa época a Capela e Sacristia, Sala das Porcelanas. Um inventário realizado em 1704 dá uma ideia da riqueza das suas colecções pela descrição de inúmeras porcelanas da China (de que o tecto da sala das porcelanas é o derradeiro testemunho), as sedas da China e os brocados de ouro da Índia, as peças de prata, as tapeçarias, as pinturas de numerosos mestres.
Pedro de Lancaster, 3º duque de Abrantes desde 1780, após o falecimento de sua mãe e 2ª duquesa de Abrantes, encarrega a decoração dos dois salões grandes pelo pintor Pedro Alexandrino de Carvalho.

Em 1870 o edifício é arrendado ao Estado Francês e, em 1909, Saint-René Taillandier, Ministro de França, compra o Palácio à família Lancaster em nome do Governo Francês.
O "apeamento" da colecção de pratos do Salão das Porcelanas
Em 2015 a colecção de pratos do Salão das Porcelanas foi "desmontada" da cúpula piramidal onde estavam encastrados. A colecção de pratos e a cúpula foram limpas e restauradas e voltou tudo a ser colocado como estava anteriormente. ver+
Aproveitando o seu "apeamento" o Museu Nacional de Arte Antiga em colaboração com a embaixada de França fez uma exposição intitulada "Azul sobre ouro" com a mostra de 60 dos pratos pertencentes a esta rara e excepcional colecção.