as obras de Sta. Engrácia
- Ana Calheiros
- 3 de mar. de 2021
- 3 min de leitura

as obras de Sta. Engrácia
a lenda
Todos já ouviram ou usaram a expressão, “parecem as obras de Stª Engrácia”. Alguns saberão que desde se iniciou a construção da igreja até que foi concluída, decorreu muito tempo, mais exactamente quatro séculos… realmente, muito tempo! Mas, poucos saberão que essa demora foi, por muitos, relacionada com um episódio que se passou no início da sua construção.
A infanta D. Maria, filha de D. Manuel I, que está na origem da fundação da igreja em 1568, doa à paróquia em 1595 um busto em prata cravejada de pedras preciosa e com relíquias de Santa Engrácia. Cinco anos depois, durante a noite, a igreja é profanada e a imagem roubada.
O cristão novo Simão Pires Solis é acusado do roubo e um ano depois é levado em procissão até ao Campo de Santa Clara, sendo-lhe decepadas as mãos e em seguida é queimado vivo. Segundo a lenda, à hora da morte, para provar a sua inocência terá dito: "É tão certo eu morrer inocente como as obras de Santa Engrácia nunca mais acabarem!“.
Na realidade a origem deste desastroso acontecimento nasceu, como muitos outros, de um caso amoroso. Ao que parece o Simão Pires e Violante apaixonaram-se. O pai de Violante, fidalgo importante, opôs-se aquela amor encerrando Violante no Convento de Santa Clara perto da igreja.
A noite em que combinaram fugir e se encontraram junto da à igreja, coincidiu com a noite do roubo. Por honra e lealdade Simão Pires não pode revelar a verdadeira razão da sua presença naquele lugar e, assim, teve a morte que era destinada aos ladrões e as suas derradeiras palavras tornaram-se, para alguns, numa maldição que justificou o atraso da conclusão da igreja.
Esta lenda popular também foi romanceada no livro Gentil Marques, Lendas de Portugal de Gentil Marques

a história
Conforme foi referido a fundação e construção da igreja iniciou-se em 1570.
Dessa igreja não restam vestígios já que em 1632 se dá início às obras de uma segunda igreja pelo arquitecto Mateus do Couto.
Em 1682 o então príncipe D. Pedro, em cerimónia solene, lança a primeira pedra da actual igreja, edificada de raiz.
Sucedem-se vários reis, cada um com a intenção de terminar as obras... que acabam por nunca concretizar. D. João V em 1724, D. José I em 1758 (curiosamente o terramoto não afectou a igreja inacabada).
Com a extinção das ordens religiosas, em 1834, a igreja é entregue às instituições militares, tendo sido utilizada como quartel, depósito de materiais de guerra e fábrica de calçado do exército.
Em 1956 (fotografia de 1958) iniciam-se os estudos efectivos e as obras que levarão à conclusão da igreja e construção da cúpula e à sua inauguração solene em 1966 como Panteão Nacional (4 séculos depois).
Nunca foi celebrada missa na igreja e o orgão, estilo joanino, em talha dourada é proveniente da Sé Patriarcal.
Hoje, alguns dos seus espaços podem ser alugados para Banquetes, recepções, conferências, recitais de música ou poesia, lançamento de livros, actos solenes, actividades de índole cultural, mostras ou exposições.
Os autores
arquitectos: Luís Amoroso Lopes (1956); João Nunes Tinoco (1673)
escultores: António Duarte (1966); Claude Laprade, Leopoldo de Almeida, António Duarte, Vasco da Conceição, Valadas Coriel.
Como Panteão Nacional site
Encontram-se aqui os túmulos
Presidentes da República: Manuel de Arriaga, Teófilo Braga, Sidónio Pais e Óscar Carmona
Escritores: João de Deus, Almeida Garrett , Guerra Junqueiro, Aquilino Ribeiro, Sophia de Mello Breyner Andresen,
Outras personalidades: Amália Rodrigues, Eusébio da Silva Ferreira, Marechal Humberto Delgado
Encontram-se aqui os cenotáfios de:
Luís de Camões, Pedro Álvares Cabral, Afonso de Albuquerque, Nuno Álvares Pereira, Vasco da Gama e do Infante D. Henrique e Aristides de Sousa Mendes
fonte fotográfica:
Igreja de Santa Engrácia em 1958 - SIPA